Entre os dias 16 e 19 de outubro de 2025, a comunidade da Praia do Balbino, em Cascavel, recebeu a terceira edição do Confluências do Mangue, reunindo saberes tradicionais, práticas de corpo, música, memória ancestral e reflexão sociocultural. Realizado no Centro Cultural Barracão do Mangue, o encontro foi idealizado pelo antropólogo e mestre de capoeira Ricardo Nascimento, professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), conhecido no universo da capoeira como Mestre Cangaceiro. Sua proposta surgiu com o objetivo de aproximar territórios, valorizar patrimônios imateriais, fortalecer vínculos comunitários e reafirmar o manguezal da Balbino como espaço vivo de cultura, identidade, resistência e futuro. A terceira edição se estendeu por quatro dias de intensa programação e mobilizou moradores da comunidade, mestres e mestras de cultura, artistas, estudantes, pesquisadores, capoeiristas e visitantes de diferentes regiões do país.
A abertura simbólica do evento aconteceu no dia 16 de outubro, em Fortaleza, no Centro Cultural Bom Jardim, com a exibição do filme “Começo, meio, começo”, seguida de um encontro com a Comitiva Quilombola Nego Bispo, grupo convidado que trouxe importantes reflexões sobre território, ancestralidade, memória e contracolonialidade. Esse gesto inaugural fora da Balbino reforçou o caráter interterritorial do Confluências do Mangue, conectando capital, periferia e litoral antes da imersão plena no ambiente comunitário. Na sexta-feira, 17 de outubro, o festival iniciou sua programação corporal com um treino aberto de capoeira na Praça da Argentina, em Fortaleza, reunindo praticantes e curiosos em uma roda pública. No mesmo dia, ao cair da noite, a comunidade da Balbino recebeu o ritual oficial de abertura no Barracão do Mangue. A celebração envolveu rituais coletivos, presenças simbólicas e o reencontro de mestres, alunos e moradores, culminando com uma grande roda que marcou o início formal do encontro diante do manguezal.
O sábado, 18 de outubro, foi dedicado à imersão na prática da capoeira e na força da musicalidade tradicional. Pela manhã houve um treino com os mestres Romeu Fumaça e Celso Brito, reforçando o aspecto técnico, ritualístico e comunitário da capoeira. À tarde, a programação desdobrou-se em linguagens e territórios musicais: Climério Anacé apresentou “A força dos Caboclos”, trazendo cantos e histórias da ancestralidade Anacé; já Mestre Naldinho conduziu uma oficina sobre musicalidades populares do Piauí, criando diálogos inter-regionais e conectando as raízes nordestinas a partir do som. Ao final da tarde um cortejo cultural seguiu pela praia com roda de capoeira, instrumentos e cânticos, levando a celebração para o espaço público e envolvendo moradores e visitantes. O dia encerrou-se à noite com o espetáculo teatral “Marulha”, apresentado pelo Grupo Base de Teatro, que retratou uma narrativa cênica inspirada na história da Praia do Balbino, nos protagonistas dela e nas relações entre a natureza e a comunidade. No domingo, 19 de outubro, o último dia manteve o ritmo intenso da capoeira, com novo treino pela manhã conduzido por Romeu Fumaça e pela treinela Dany.
O Confluências do Mangue 2025 consolidou-se como um espaço de encontro entre corpo, cultura, ancestralidade e território. Ao reunir capoeira, música, teatro, cinema e debate crítico, o evento reafirmou o manguezal da Balbino não apenas como paisagem natural, mas como lugar de memória, pedagogia social e pertencimento. Ao final dos quatro dias, ficou evidente que o Confluências do Mangue vai muito além de um festival: é um movimento de afirmação cultural, de resistência e de continuidade, que transforma o território em protagonista e a comunidade em guardiã.



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