A Praia do Balbino, localizada no litoral de Cascavel, Ceará, é um território de história, pertencimento e resistência que encontrou no turismo comunitário uma forma de fortalecer sua cultura, proteger o meio ambiente e gerar novas oportunidades para as famílias locais. Essa jornada se enraíza na própria organização da comunidade, que desde 1987, com a criação da Associação dos Moradores do Povoado de Balbino, lutou pela proteção de suas terras frente à especulação imobiliária. Essa mobilização coletiva garantiu, em 1988, a criação da primeira Área de Proteção Ambiental do Ceará, a APA do Balbino, por meio da Lei nº 479/88, e em 1997 o título de domínio comunitário foi transferido à Associação, consolidando um modelo de gestão territorial único no litoral cearense.

Ao longo de décadas, mesmo antes da luta que deu visibilidade à comunidade, já havia registros de moradores recebendo visitantes, construindo de forma orgânica e autônoma um modelo de turismo comunitário reconhecido posteriormente por estudos como uma prática “bottom-up”, conduzida pela própria comunidade e não por agentes externos. Paralelamente, o declínio de algumas atividades tradicionais, como a pesca artesanal e a agricultura, fez do turismo uma alternativa estratégica para fortalecer a economia local e criar novas perspectivas, sem abrir mão da preservação do território e de suas tradições.

O marco recente desse processo é o Projeto Balbino Mar de Experiências, iniciado em setembro de 2023 por Flávia Pereira, filha da comunidade, e pelo turismólogo Ataíde Belchior, que reconheceram o potencial turístico, cultural, ambiental e humano do Balbino para se tornar referência em turismo responsável. Desde então, diversas ações estruturantes vêm sendo desenvolvidas, fortalecendo a organização comunitária, ampliando a visibilidade do destino e consolidando experiências turísticas que valorizam o modo de vida local, como a pesca artesanal, o artesanato em renda de bilro, artesanato do coco, gastronomia local, trilhas ecológicas e apresentações da tradicional Dança do Coco.

A consolidação do turismo na Praia do Balbino tem sido impulsionada por uma série de atividades de formação, articulação e promoção. Reuniões comunitárias foram realizadas para organizar os eixos de atuação — alimentação, hospedagem, artesanato e pescadores — além de treinamentos com guias locais. Também foram criados grupos setoriais para comunicação e distribuído material de divulgação para facilitar o alinhamento entre os envolvidos. Essas ações contribuíram para fortalecer o engajamento, ampliar a visibilidade e integrar diferentes setores da comunidade em torno de um projeto comum.

O destino também passou a receber visitas estratégicas de influenciadores, grupos de vivências, repórteres e instituições de ensino, ampliando sua presença em plataformas digitais e canais de comunicação especializados. Entre os destaques estão a visita da influenciadora Brenda Viagem e do grupo Imersa Mundo, envolvendo hospedagem em casas de moradores, gastronomia local e apresentações culturais — um exemplo claro de como o turismo pode gerar renda direta e valorizar o protagonismo comunitário. Além disso, a visita de representantes do Hotel Varandas e o interesse de parceiros locais demonstram que o turismo do Balbino vem conquistando credibilidade e despertando oportunidades para cooperação com o setor privado da região.

A inserção do destino em redes e eventos de porte nacional tem sido fundamental para consolidar este processo. A Associação dos Moradores foi integrada à Rota das Falésias, ampliando sua visibilidade institucional e possibilitando a participação em feiras e encontros do setor. Visitas técnicas do SEBRAE e da equipe da própria Rota trouxeram diagnósticos e orientações estratégicas para fortalecer o destino, reforçando a importância da qualificação e do planejamento na caminhada do turismo comunitário.

Representando a comunidade, lideranças do Balbino participaram de alguns dos principais eventos do turismo responsável do Brasil. No Seminário de Turismo Responsável, em Brasília, tiveram contato com gestores, técnicos e autoridades nacionais, como representantes da Embratur e do Ministério do Turismo. Histórias de iniciativas premiadas e debates sobre sustentabilidade inspiraram ainda mais a construção de um modelo que seja, antes de tudo, bom para quem vive no território — premissa central do turismo comunitário. Também houve participação em eventos como a Feira de Turismo Rural, a convite do SEBRAE, e a ABAV Expo Internacional, pela ADETURF – Agência de Desenvolvimento da Rota das Falésias, além da Feira BTM e do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, fortalecendo redes e ampliando a presença nacional da Praia do Balbino como destino emergente de turismo responsável.

Essas articulações geraram aprendizados valiosos, reafirmando princípios centrais do turismo no Balbino: gerar benefícios reais para a comunidade; promover desenvolvimento econômico sustentável; fortalecer a cultura e as tradições locais; e garantir que o turista vivencie experiências autênticas conduzidas por quem conhece e pertence ao território. Esse é o fundamento do Projeto Balbino Mar de Experiências, que segue firme com o compromisso de consolidar a praia como referência nacional em turismo comunitário, valorizando as pessoas, o lugar e seu vasto patrimônio cultural e ambiental.

Os próximos passos do turismo na Praia do Balbino envolvem organização interna, ampliação da participação comunitária, formação de novas lideranças, criação de materiais de divulgação, e presença ativa em feiras e eventos nacionais e internacionais, como BTM, FITUR, BTL e WTM. As reuniões periódicas e o Famtour Balbino Mar de Experiências, voltado a agentes de viagem, influenciadores e professores, são parte desse movimento de qualificação e expansão do destino, que cresce sem perder sua essência: ser um território vivo, que acolhe o turista com autenticidade, cuidado e orgulho de sua história.

O turismo na Praia do Balbino é uma construção coletiva que combina memória, luta, natureza e cultura. Um turismo feito por gente daqui, para manter viva a identidade de um território que soube, ao longo de décadas, escolher caminhos de proteção, união e pertencimento. Um turismo que transforma sem descaracterizar, que fortalece sem explorar, e que abre portas para o futuro.